É que eu ainda vivia cuidando de você, por trás das cortinas, ajustando o foco da sua vida pra distante da minha, mas ainda sim, acertando cada detalhe, me assegurando que você estaria feliz. Eu não imaginei que fosse perder o controle, achei que fosse forte o suficiente pra quando fosse o momento deixar você como único responsável pela sua vida, mas eu simplesmente não consegui. Continuei acompanhando seus passos invisivelmente, vi todas as suas tentativas inúteis de me substituir, te vi gritar meu nome, te vi sangrar sobre minha ausência. Me mantive calada, mergulhada na minha dor, meu coração te respondia aos berros, minha boca se contraia com força pra impedir que alguma coisa se propagasse de maneira audível. Eu vi você sozinho, clamando por mim, pelos meus sorrisos, rezando pra que eu voltasse e dividisse com você o peso da sua vida, mas eu não podia...sempre pedi por você, mas já não fazia nada, foi você quem quis assim, eu sofri, matei uma grande parte de mim, não podia recolher os pedaços no caminho e voltar remendada pedindo pra que você quebrasse tudo de novo. Era imprudente. Aos poucos você ia se erguendo, cambaleava aqui, fazia menção de voltar, murmurava o quanto me queria por perto, mas a sua memória fraca se empenhava em cumprir seu papel, você já não falava meu nome, já não dormia agarrado ao travesseiro se martirizando por ter me deixado ir. Você sorria ocasionalmente e isso me assustava. Você estava me esquecendo e eu aqui, ainda dependente de você, quis me jogar pra dentro da sua vida, eu quis está presente, mas eu não tinha força, minto, eu não tinha espaço. Você se curou, voltou a ser o homem vazio sem conteúdo que eu havia conhecido e eu me dei conta da idiota que havia sido todo esse tempo, preocupada em te fazer me esquecer, mas sem me dá conta que eu me apaixonava pela sua dor, eu me sentia mais viva quando te via precisar de mim, eu precisava que você me precisasse. E nessa hora eu quis recolher o que havia quebrado, eu quis que você me ajudasse a juntar os fragmentos – mesmo que destruísse tudo de novo, quis te embriagar com meu perfume e te ver fascinado pela minha malicia. Eu quis ser sua, outra vez só sua. Mas não havia mais nada. Você havia se livrado não das minhas lembranças, mas do homem que eu amei. Toda aquela superficialidade não me convém, eu queria você e não uma casca insegura de homem pegador. Não foi você quem me deixou ir, eu quem fiz você se perder dentro de você, dentro de mim.
Hoje eu grito, hoje eu sinto. Volta pra mim, volta pra você...
Eu não sei de onde tá vindo inspiração, não mesmo...